domingo, 27 de outubro de 2019

“Paz” é uma palavra celestial. Quando, do advento de nosso Senhor anjos vieram para cantar entre os homens o soneto da meia-noite, sua segunda nota era: “Paz na terra”. Aqueles que já viram a guerra, ou mesmo que chegaram perto da trilha da sua marcha sangrenta, será grato a Deus pela paz. Estou quase pensando como quem disse que a pior paz é preferível à melhor guerra que jamais foi travada. A paz é mais agradável quando a religião fica sob a sua sombra e lhe oferece alegres votos para o Céu.
Quão gratos devemos ser por podermos nos reunir para adorar a Deus da forma que melhor satisfaça as nossas consciências, sem medo de sermos perseguidos pelas autoridades da Terra. Bem-aventurada é a terra em que vivemos e abençoados são os dias em que vivemos, quando com toda a paz e tranquilidade adoramos a Deus em público, e cantamos Seus altos louvores tão alto quanto quisermos. Grande Deus da Paz, o Senhor nos deu essa paz, e em memória de nossos antepassados nós te bendizemos com todo o nosso coração!
Reunimo-nos hoje com o propósito de ouvir o Evangelho da paz e muitos de nós iremos participar posteriormente desta festa sagrada que celebra a paz e que é para sempre em memória do grande Construtor da paz entre Deus e o homem (a santa Ceia). E, no entanto, pode ser que até mesmo os cristãos aqui presentes não estejam completamente em paz. Possivelmente você não deixou sua família em paz esta tarde. Guerras ocorrem mesmo entre corações amorosos. Infelizmente, até o próprio dia do Senhor é perturbado às vezes, por maus temperamentos que não podem estar unidos para manter a paz, e que estão desenfreados mesmo neste dia doce de descanso!
Que pobres criaturas somos nós que podemos perder a nossa paz de espírito, mesmo por uma palavra ou um olhar! Paz, na forma de perfeita calma e serenidade, é uma coisa muito delicada e sensível e precisa de um tratamento mais cuidadoso do que um cristal de Veneza. É difícil para o mar do nosso coração permanecer calmo muito tempo. Talvez, também, alguns dos meus irmãos e irmãs aqui presentes não têm estado caminhando perto de Deus – e se assim for, a sua paz não será perfeita.
Pode ser, meu irmão, que durante a semana você tenha se desviado um pouco de sua verdadeira posição e, em caso afirmativo, a sua paz fugiu. Seu coração está perturbado apesar de você crer em Cristo para a salvação e seja, portanto, salvo, mas apesar de tudo o seu descanso interior pode ser quebrado. Por isso eu transformarei o texto numa oração e orarei por mim e por cada crente em Jesus Cristo, para que a paz de Deus, que excede todo o entendimento, possa agora guardar os nossos corações e mentes em Cristo Jesus.
Todos vocês conhecem o texto por experiência. Aquele que escreveu isto tinha sentido isso – possamos nós que o lemos agora, senti-lo também. Paulo tinha experimentado muitas vezes o brilho da paz na escuridão de uma masmorra e ele sentiu a paz que vive na perspectiva de uma morte súbita e cruel. Ele amou a paz, pregou a paz, viveu em paz, morreu em paz, eis que ele entrou no gozo da paz e habita em paz diante do Trono de Deus!

I. Vejamos agora o privilégio indizível – sobre o qual é muito difícil falar, porque excede todo o entendimento. É uma daquelas coisas que podem ser mais facilmente experimentadas do que explicadas.
O que é a paz de Deus? Eu poderia descrevê-la, em primeiro lugar, dizendo que é, certamente, a paz com Deus. É a paz de consciência, a paz real com o Altíssimo através do sacrifício expiatório. Reconciliação, perdão, restauração ao favor de Deus – isto deve haver e a alma deve estar ciente disso – não pode haver paz de Deus a parte da justificação por meio do sangue e da justiça de Jesus Cristo, recebida pela fé. Um homem consciente de ser culpado nunca pode conhecer a paz de Deus, até que ele se torne igualmente consciente de estar perdoado. Quando sua consciência do perdão se tornar tão forte e viva como a sua consciência de culpa tinha sido, então ele vai entrar no gozo da paz de Deus que excede todo o entendimento!
Queridos irmãos e irmãs em Cristo, que creram em Jesus – há paz perfeita entre você e Deus agora- “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus.” Seu pecado era o fundamento do conflito, mas isto já passou. Isto tem cessado! Isto é apagado! Isto é lançado no fundo do mar! Tanto quanto o oriente está longe do ocidente, assim tem ele removido nossas transgressões de nós! Nosso bode expiatório divino levou nossas iniquidades para o deserto. Nosso Senhor e Mestre tem acabado com a transgressão, e posto um fim ao pecado. Ele trouxe a justiça eterna. A causa da ofensa se foi e se foi para sempre – Jesus assumiu a nossa culpa, sofreu em nosso lugar, fez a compensação integral para o ofensor da Lei e vindicou a Justiça no grau mais elevado, e agora não há nada que possa despertar a ira de Deus para conosco, porque o nosso pecado é removido e a nossa injustiça é coberta.
Estamos reconciliados com Deus, por Jesus Cristo e aceitos no Amado. Agora, esta reconciliação real traz ao coração uma profunda sensação de paz. Oh todos vocês possuem isto! Lembra-te, alma, se Cristo de fato, sofreu em seu lugar e foi feito maldição por você, a Justiça não pode exigir de suas mãos a pena que o Fiador tem pago, pois isso seria desonrar Seu Sacrifício, tornando-o de nenhum efeito! Se Jesus se levantou como o seu Substituto e satisfez o que Deus exigia para a vindicação de Sua Lei, então você está limpo, além de toda a dúvida limpo para sempre, salvo no Senhor, com uma salvação eterna!
“A paz de Deus, que excede todo o entendimento” tem também uma segunda forma, ou seja, a de uma consequente paz no pequeno reino interior. Quando sabemos que somos perdoados e que estamos em paz com Deus, as coisas dentro de nós experimentam uma mudança repentina e agradável. Por natureza, tudo em nossa natureza interna está em guerra. O homem está fora de ordem – fora da ordem com Deus, com o universo e consigo mesmo. O maquinário da humanidade caiu em grave desordem, suas engrenagens e rodas não funcionam na devida harmonia. As paixões, em vez de serem governadas pela razão, muitas vezes exigem que sejam seguradas pelas rédeas. A razão, em vez de ser guiada pelo conhecimento que Deus comunica pela Sua Palavra, escolhe obedecer a uma imaginação corrompida e exige que seja um poder independente e julga o próprio Deus!
A guerra cruel interna muitas vezes grassa entre nossos poderes mentais, instintos animais e faculdades morais, causando angústia, medo e infelicidade. Não há cura para isso, senão somente a restauração pela Graça. O homem não pode agir em verdadeira harmonia até que primeiro esteja bem com Deus! O Rei deve ocupar o trono e, então, o estado da alma humana será devidamente resolvido – mas até que o chefe tenha a autoridade devida a rebelião e o motim irão continuar.
Quando o Senhor sopra a paz no interior do homem e o Espírito Santo desce como uma pomba para habitar em sua alma, então há calma – onde tudo era caos, a ordem aparece, o homem é criado de novo e se torna uma nova criatura em Cristo Jesus. E apesar de desejos rebeldes continuarem tentando obter o domínio, há agora um outro poder dominante que mantém o homem em ordem de modo que no seu interior existe “a paz de Deus, que excede todo o entendimento.” Isto conduz à paz, em relação a todas as circunstâncias externas em razão de nossa confiança de que Deus as ordena corretamente e faz com que tudo coopere para o nosso bem. O homem que crê em Jesus e está reconciliado com Deus não tem nada externo que precise temer.
Tampouco isso é tudo. Deus tem o prazer de dar ao seu povo paz em relação a todos os Seus mandamentos. Enquanto a alma não é regenerada, ela se rebela contra a mente e a vontade de Deus. Se Deus proíbe, o coração não renovado anseia pela coisa proibida. Se Deus manda, a mente natural, por isso mesmo, se recusa a fazê-lo! Mas quando a mudança acontece e estamos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho, então, amados, passamos a andar na mesma direção com Deus e o nosso mais profundo desejo é permanecer em plena harmonia com ele. Sua vontade se torna a nossa alegria e nossa única tristeza é que não possamos estar perfeitamente conformados a isto. Não há preceito de Deus, que seja doloroso para um coração misericordioso.
O cristianismo não nos ensina o estoicismo, nem aponta nessa direção, para a obtenção da paz. Ele cultiva a ternura, não a insensibilidade. Sua influência tende a nos tornar sensíveis ao invés de insensíveis e nos dá uma paz consistente com a maior delicadeza de sentimentos, sim, com uma sensibilidade mais intensa do que outros homens conheçam, uma vez que torna a nossa consciência mais sensível e faz com que a mente fique profundamente angustiada com a menor reprovação dos Céus. Nossa paz não é a paz de apatia, mas de um tipo muito mais nobre.
Outros têm almejado a paz de leviandade, que o mundo pode entender facilmente. Eles pensam que é uma das coisas mais sábias manter toda forma de cuidado maçante à distância e tudo o que de mau lhes acontece, procuram afogar isto no fluxo do riso – gargalhando quando a miséria devora suas almas.
Os cristãos não tentam se livrar das provações da vida dessa maneira. O mundo, portanto, não pode compreender a paz do cristão desde que ele não é nem apático nem frívolo. De onde essa paz veio? A resposta de muitos mundano é: “Ah, isto vem de algum delírio fanático.” Mas, na verdade, não estamos iludidos. Os fundamentos da paz de um cristão são racionais, lógicos e bem firmados.
Aquele que crê que Jesus Cristo sofreu em seu lugar e que isto foi devido à justiça de Deus tem um argumento racional para estar em paz. Deus perdoou, pelo amor de Cristo, toda a sua maldade, por que ele não deveria estar em paz? E se é, de fato, assim que o cristão se tornou filho de Deus, ele não deveria estar em paz? Se Deus Pai governa todas as coisas para o seu bem, ele não deveria estar em paz? Se para ele não existe mais perigo de morte eterna – se para ele está preparada uma gloriosa ressurreição – e se ele, finalmente, vai brilhar com Cristo na glória eterna, por que não teria paz? E assim o mundano não entende a nossa paz e frequentemente zomba porque ele fica intrigado com ela.

II. Devo, em segundo lugar, indicar, queridos amigos, como essa paz deve ser obtida. Agora, lembre-se que o apóstolo estava se dirigindo apenas aos cristãos no Senhor Jesus e peço-lhes para terem cuidado com a limitação. Eu não estou me dirigindo ao ímpio, falo apenas para os cristãos. Você está sempre em paz com Deus, embora você nem sempre aprecie o sentido disto. Se você quiser experimentá-lo, como dever agir? A conexão lhe diz como, no versículo 4 no qual Paulo diz: “Alegrai-vos sempre no Senhor, outra vez digo, regozijai-vos.” Se você quer ter paz de espírito, faça de Deus a sua alegria e coloque toda a sua alegria em Deus!
Você não pode se regozijar em si mesmo, mas você deve se alegrar em Deus. Você nem sempre pode se alegrar em suas circunstâncias, pois elas variam muito, porém o Senhor nunca muda. “Alegrai-vos sempre no Senhor.” Se você se regozija nas coisas terrenas você deve desfrutá-las moderadamente. Mas a alegria no Senhor pode ser usada sem a possibilidade de se exceder, porque o apóstolo acrescenta: “Mais uma vez digo, regozijai-vos”, se alegrar e se alegrar! Alegrai-vos no Senhor. Quem tem um Deus que você tem? “A rocha deles não é como a nossa Rocha,”. Quem tem um amigo assim, um Pai assim, um Salvador assim, um Consolador assim, que você tem no Senhor seu Deus? Pensar em Deus como nossa grande alegria é encontrar “a paz de Deus, que excede todo o entendimento.”
Vá para o quinto versículo, onde o apóstolo diz: “Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens.” Ou seja, enquanto toda a sua alegria estiver em Deus, lide com todas as coisas terrenas sobre o princípio da precaução. Se alguém elogia você, não exulte. Se, ao contrário, você é censurado, não deixe que seu espírito afunde. Se você tem prosperidade, graças a Deus por isso, mas não tenha certeza de que isso vai continuar. Se a propriedade é sua, use-a, mas não permita que ela se torne o seu tesouro ou o chefe da sua mente. Você sofre adversidade? Ore a Deus para ajudá-lo, mas não fique tão abatido a ponto de desesperar. Beba dos copos terrenos por goles, não seja tolo como a mosca que se afoga em doçuras. Use as coisas deste tempo mas não abuse delas. Não percorra por longo tempo o mar perigoso de confortos deste mundo. Nunca permita que os seus bens se tornem o seu deus.
#jefersonbrayner


Nenhum comentário:

Postar um comentário